MinasMundoMulher: afluentes
Há associações limitadas sobre possibilidades de representação. Percebo muitas imagens com simetrias perfeitas e a prática vinculada a técnicas fotográficas. Encontro essa perspectiva ou a busca pelo acabamento demasiado plástico e digital: o creme de tempos de replicação imagética. Nada disso me interessa. Penso que o desenho pode se colar no real à vontade, é poderoso capturar, mas limitar a prática corpo-papel a um mote de retrato é uma redução. Desenhar é justamente cortar e expandir; são movimentos quase circulares de permanência para enxergar e revisitar. Abandonar os grandes pedestais chama as formas ao encontro. E ao deixar a regência de referências e insistir na fazibilidade, definimos afinidades técnicas e o inacabado entra como corpo no mote da materialidade. Por isso muito me alegra estar no trem MinasMundo, que oferece releituras, revisões e revisitações a um marco durante quatro anos.
Dou sequência ao nosso sopro, engrenagens e volutas mineiras e cosmopolitas trazendo o primeiro desenho de uma série chamada afluentes. Curiosamente, trago ao projeto uma imagem de águas e linhas contínuas no dia internacional da mulher logo depois de gestar um filho em panorama pandêmico. É evidente que reposicionar os órgãos internos e criar novos relacionamentos com a espessura do tempo é feminino, mas é também um ato de abertura de antropofagias da antropofagia para trabalhar com o redimensionamento das membranas, das fibras, dos mapas e de uma série de funções; e isso certamente não é só da mulher, é do mundo. Acredito que trazer elementos como afluentes, além dessa conversa, para o nosso projeto em 2021 é importante não apenas no viés da imagem, mas no que se refere a diversos tipos de prática de corte e colagem, de redimensionamento e zoom, para a compreensão de possibilidades e para pensarmos imagens e cultura integradas e tensionadas ao que é circunstancial e totalizante. Alongamos os eixos do real e as linhas que os olhos agarram e entendemos o que alcançar no encontro com o outro. Os afluentes entram como permanência e deslocamento de signos, de maneira que investigar imagens torna-se uma forma de azeitar novos mapas, cortar e expandir outras coisas tantas.
08.03.2021
Joana Lavôr