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Clube da Esquina: encontros e despedidas nos caminhos da canção popular brasileira

Bruno Viveiros Martins

Clube da Esquina: encontros e despedidas nos caminhos da canção popular brasileira

Esquina é um lugar de encontro. Assim como clube traz a ideia da reciprocidade entre iguais. Contudo, quando perguntados sobre o que é o Clube da Esquina e como ele foi criado, seus integrantes não sabem responder exatamente o que aconteceu de fato. Uma coisa, porém, é certa: a amizade nasceu antes de qualquer uma de suas canções, compostas na grande maioria das vezes nas parcerias entre eles. A mistura de convivência, afeto e enriquecimento mútuo que combate a solidão, visando colocar fim à incompletude humana, é o grande segredo dessa obra coletiva de faces múltiplas e rara riqueza musical criada entre os anos de 1960 e 1970. Milton Nascimento, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Wagner Tiso, Toninho Horta, Lô Borges, Beto Guedes, Tavinho Moura, Nelson Ângelo, Flávio Venturini foram alguns dos sócios desse clube imaginário que reuniu em seus caminhos referências musicais consideradas até então inconciliáveis. Desde que se encontraram nas esquinas de Belo Horizonte, os compositores expandiram suas conexões com os sons da América Hispânica e com as tradições ancestrais do interior mineiro, das manifestações da África negra presentes nos congados e folias de reis ao catolicismo festeiro e popular; além de recorrer às novas possibilidades rítmicas inauguradas pela Bossa Nova. Em seus discos, eles transitavam também pelas linguagens mais modernas do jazz e do rock em circulação pelas cidades do ocidente, assim como por outras narrativas artísticas como o cinema, teatro, dança e literatura. O cosmopolitismo presente em LPs como Clube da Esquina, de 1972, e Clube da Esquina II, de 1978, teria inaugurado a World Music, muito antes do termo ser popularizado nos anos seguintes. Ao longo de sua trajetória, a voz enigmática de Milton Nascimento congregou em torno de sua figura todos esses amigos que viriam a ser seus parceiros musicais. Vindos das diferentes regiões de Minas Gerais, a maioria dos integrantes do Clube da Esquina não carregou consigo apenas influências culturais díspares, mas também histórias de vida e visões de mundo singulares. Cada um dos compositores trouxe, através de referências pessoais, também um pouco do seu lugar de origem. Eles, no entanto, nunca perderam de vista os caminhos que levaram o Clube da Esquina a ultrapassar as fronteiras entre os sonhos e os sons.

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