Carmen Felgueiras
Localismo e cosmopolitismo na memorialística de Afonso Arinos de Melo Franco
Minha proposta de trabalho para o projeto de pesquisa Minas mundo é investigar como o par conceitual localismo e cosmopolitismo ou seu equivalente particularismo e universalismo aparece na obra de Afonso Arinos de Melo Franco combinando-se, ou excluindo-se, em função de contextos específicos da experiência do narrador, e como cada um dos termos se constitui em perspectiva ou categoria a partir da qual ele observa o mundo e orienta a sua ação. Nesse sentido, a pesquisa utilizará dois corpora narrativos, as memórias e os ensaios. Sua obra memorialística, A alma do tempo, se constitui em objeto privilegiado para a análise do que estou considerando denotativa dos “contextos específicos de uma experiência cosmopolita e/ou provinciana”, como a infância, a viagem, a política, a diplomacia etc. Já a ensaística (O índio brasileiro e a Revolução Francesa: as origens brasileiras da teoria da bondade natural talvez seja o principal ensaio a ser estudado) pode lançar luz sobre como Afonso Arinos se vale dessas categorias para o seu trabalho de interpretação da sociedade brasileira. A principal hipótese do trabalho é a de que as relações de Afonso Arinos com o seu círculo familiar podem dar a chave para o entendimento de uma certa oscilação – entre contraste e afinidade – entre localismo e cosmopolitismo em A alma do tempo. Enquanto suas origens mineiras e brasileiras se aproximam de um ideal de (ou uma idealização da) autenticidade local, a reconstituição de uma tradição familiar a partir de seus ascendentes mais próximos assume um sentido cada vez mais artificial e pragmático na medida de sua associação à cultura europeia. Quanto às formas narrativas, sugere-se que o ensaio seria o meio pelo qual o autor realiza o trânsito entre as reflexões solitárias presentes nas memórias, voltadas para si e para os seus, e uma sociabilidade mais ampla, buscando o diálogo com os contemporâneos e afirmando-se como um intelectual público.