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A Causa da Patrimônio: civilização, subjetividade e autenticidade em Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969)

José Reginaldo Santos Gonçalves

A Causa da Patrimônio: civilização, subjetividade e autenticidade em Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969)

Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969) integra uma constelação de intelectuais mineiros associados ao modernismo nos anos 20, o conhecido “grupo da Rua Bahia” em Belo Horizonte. Em estudo produzido nos anos 90 sobre modernistas mineiros, destaca-se o perfil intelectual do grupo pelo seu compromisso com a razão e a universalidade, um compromisso com a “civilização”, assumindo como tarefa primordial inserir o Brasil “no concerto das nações”. Nessa constelação, RMFA virá a ocupar uma posição singular. Sua carreira intelectual e profissional vai estar existencialmente associada à criação e à direção do SPHAN – o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ele, sob indicação de Mário de Andrade (1993-1945) e do então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema (1900-1985), vai dirigir a partir do ano de 1937 até 1967, pouco antes de sua morte em 1969.

A proposta é descrever e analisar essa posição, tal como ela se articula intelectualmente nos artigos, pareceres, discursos, livros e na performance pública de RMFA ao longo dos trinta anos em que esteve à frente dessa instituição. Em sua produção intelectual e em sua atuação administrativa ressoa o ideário dos intelectuais mineiros de sua geração, notadamente seu compromisso com a ideia de “civilização”. Em resumo, para RMFA, a “causa do patrimônio” era primeiramente a causa da civilização.

No entanto, um aspecto importante nas concepções daquele grupo de intelectuais modernistas consiste na mediação sensível entre o ideário universalista contido na ideia de civilização e a valorização de uma cultura autenticamente nacional. Distinguindo a singularidade do patrimônio brasileiro em relação à herança clássica das “nações civilizadas”, diz ele em 1936: “A poesia de uma igreja brasileira do período colonial é, para nós, mais comovente do que a do Parthenon. E qualquer das estátuas que o Aleijadinho recortou na pedra-sabão para o adro do santuário de Congonhas nos fala mais à imaginação que o Moisés de Miguel Ângelo”.

No contexto de um processo universal de civilização, o Brasil é oposto a nações “mais maduras” ou “mais civilizadas”. Isso, no entanto, não traz como consequência uma visão negativa, pessimista da cultura brasileira, mas o sentido de que se tornará uma nação plenamente moderna, civilizada e madura, na medida em que os brasileiros venham a reconhecer, assumir e defender sua cultura ou “tradição”, como parte da civilização universal.

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