Karim Helayël
Cosmopolitismo e dependência: Theotônio dos Santos
Levando em consideração a proposta mais ampla de discutir a relação entre o cosmopolitismo e a cultura mineira, afigura-se incontornável tratar da obra do economista mineiro Theotônio dos Santos (1936-2018). Ao experienciar o exílio, Santos forja uma potente interpretação do tipo de capitalismo que se constituiu na América Latina, cujas formulações sobre a dependência lograram forte ressonância no contexto intelectual da região nos anos 1960-1970. No entanto, sua capacidade de interpelação cognitiva não parece ter se esgotado em seu contexto imediato, uma vez que suas proposições vêm sendo mobilizadas pela teoria sociológica produzida contemporaneamente. Nesse sentido, a pesquisa a ser desenvolvida girará em torno da produção e circulação de repertórios intelectuais, tomando como objeto de estudo o modo pelo qual o diagnóstico da dependência, formalizado pelo intelectual mineiro, tem sido incorporado pelo debate sociológico contemporâneo a respeito da geopolítica do conhecimento e da “dependência acadêmica”. Levarei em conta ainda a sua recepção em trabalhos que têm como objetivo pensar a produção das ciências sociais na América Latina em oposição a perspectivas eurocentradas. O empreendimento proposto procurará mensurar, desse modo, a maneira pela qual as formulações de Theotônio dos Santos contribuíram para a construção de diagnósticos que vêm ressaltando as assimetrias entre países comumente entendidos como produtores de teorias – no caso, os países centrais – e aqueles que seriam os países consumidores de repertórios teóricos – mais especificamente, os periféricos.
Sendo assim, a minha hipótese é a de que, a despeito da ampla repercussão do famoso livro Dependência e desenvolvimento econômico na América Latina, de 1969, escrito em parceria por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, a perspectiva de Theotônio dos Santos sobre a dependência parece ter interpelado de modo muito mais contundente a vertente sociológica contemporânea vinculada ao debate da geopolítica do conhecimento e da “dependência acadêmica”. Ou seja, os trabalhos de Santos, ao articularem as dimensões local e global do capitalismo dependente, podem ter desempenhado importante papel em reflexões relativamente recentes que visam problematizar o processo de produção e circulação do conhecimento sociológico.