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Teatralidade e cosmopolitismo do Triunfo Eucarístico na Vila Rica do século XVIII

Paulo Maciel

Teatralidade e cosmopolitismo do Triunfo Eucarístico na Vila Rica do século XVIII

A reflexão proposta sobre a relação entre urbanidade, teatralidade e cosmopolitismo, na Vila Rica do século XVIII, parte do comentário de Gilda de Mello e Souza, em Teatro ao Sul, a respeito da escolha do meio artístico para o tratamento da questão da decadência da sociedade patriarcal no Norte e no Sul do Brasil. Conforme argumentou a ensaísta, no Norte, o romance teria sido a forma privilegiada de tratamento do tema, enquanto, no Sul, o teatro se mostrou o meio mais adequado a sua retratação. Distinção que se baseia na duração do fenômeno, mais lento no Norte e mais veloz no Sul, como também no fato de que o teatro, ao contrário do romance, exigia uma sociedade mais urbana capaz de garantir o desenvolvimento de uma arte mais coletiva que individual. Não foi por acaso, então, que as primeiras manifestações teatrais no Brasil surgiram ligadas aos núcleos de povoamento, as vilas e as cidades, fundados ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Nos últimos tempos, a noção de teatralidade tem sido empregada também para dar conta de eventos ou ações que demarcam as formas urbanas de sociabilidade nas cidades. Nesse sentido, através do estudo das festas barrocas mineiras, busco compreender que forma de teatralidade com a urbanidade e ou o espaço urbano emergente na Vila Rica do século XVIII. Urbanidade ou espaço urbano que, por sua vez, surge configurado publicamente por uma determinada teatralidade articulada pelas festas, uma vez que ambos os fenômenos parecem interligados naquele contexto.

A pesquisa pretende se debruçar sobre o chamado Triunfo Eucarístico (1733) a fim de descortinar os fios que, no passado, uniam teatralidade, urbanidade e cosmopolitismo mineiro a um determinado sistema das artes dominante no século XVIII. Sistema que remonta à noção de circularidade cultural, desenvolvida por Affonso Ávila em seus diversos estudos sobre o barroco, como uma espécie de complexo cultural e ou civilizacional articulado na Minas Gerais colonial.

Do ponto de vista crítico, o significado político-social das festas barrocas costuma oscilar entre a obediência ao universo da contrarreforma e do absolutismo europeu e a carnavalização dos valores e símbolos dessa ordem estabelecida, arte da contraconquista; ora integrariam os mecanismos de controle e domínio da metrópole sob a colônia, ora seriam meios possíveis de insurgência dos colonos, espaço-tempo de manobra, de sincretismo e ou de congraçamento sócio racial. Essa dupla perspectiva ideológica sobre as festas barrocas não marcaria, então, a própria lógica cultural do cosmopolitismo mineiro enquanto complexo civilizacional? Dessa forma, buscamos dar continuidade à reflexão em torno dos significados assumidos pelo barroco mineiro, especialmente em torno da teatralidade das festas, mas atento, especificamente, à sua contribuição para a constituição de uma lógica cultural nascida no interior desse emergente contexto colonial e urbano.

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