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Afromnemosyne: o corpo, a dança, as mãos, o olhar

Roniere Menezes

Afromnemosine: o corpo, a dança, as mãos, o olhar

A ideia da montagem partiu da lembrança de trecho de carta de Mário de Andrade a Carlos Drummond em que Mário trata da dançarina que vira desfilar no carnaval do Rio de Janeiro, totalmente entregue aos movimentos. Procurei imagens que mostrassem artistas imersos em sua performance. Durante a pesquisa, percebi que diversas pinturas, fotografias, diversos desenhos mostravam artistas concentrados(as), alheios(as) ao mundo ao redor e, ao mesmo tempo, com os braços e os olhares dirigidos ao alto, como se os braços funcionassem como antenas, galhos de árvores a sustentar um céu que não pode cair, e os olhos pedissem, aos céus, bênçãos, inspiração e força para a continuidade da luta cotidiana. O corpo brinca, ginga, e os pés do artista, da artista pisam com delicadeza a terra, como bom sambista a acariciar o chão em que dança e de onde extrai energia vital. As imagens selecionadas são um recorte dos textos encontrados. A relação entre as imagens sugere sobrevivências da gestualidade ancestral aberta ao devir. Foram selecionados também alguns trechos de poemas, narrativas, quadras populares e sambas de autores mineiros. Em diálogo com as imagens, os textos de literatura e canção almejam ampliar nossa percepção sobre o tema tratado.

“Uns negros dançando o samba. Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros. (…) Ela me ensinou a felicidade.”
(Mário de Andrade – Carta a Drummond)

“Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.”
(Carlos Drummond)

“A alegria de meu povo explode
Em charamelas, trombetas e gaitas,
Rouqueiras de estrondo e júbilo,
Canções e danças pelas ruas.”
(Carlos Drummond)

“Na viola do urubu
O sapo chegou no céu.
Quanto pego na viola
O céu fica sendo meu.”
(Quadra de Sagarana – Guimarães Rosa)

“Dentro das alas, nações em festa
Reis e rainhas cantar
Ninguém se cala louvando as glórias
Que a história contou”
(Milton Nascimento)

“Era um, era dois, era cem
Mil tambores e as vozes do além”
(Milton Nascimento e Márcio Borges)

“Morro velho, senzala, casa cheia
Repinica, rebate, revolteia”
(Milton Nascimento e Márcio Borges)

“Na casa aberta
É noite de festa
Dançam Geralda, Helena, Flor
Na beira do rio
Escuto Ramiro
Dona Mercês toca tambor”
(Flávio Henrique e Chico Amaral)

“Sá rainha chamou ê viva, ê viva!
Com chicote na mão: ê viva, ê viva!
Eu não sou de apanhar, eu não sou nego dela
Eu não vou lá, eu não vou lá!”
(Maurício Tizumba)

“Baiana é aquela que entra no samba de qualquer maneira
Mexe, remexe, dá nó nas cadeiras
E deixa a moçada com água na boca”
(Geraldo Pereira)

“Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba”
(Ataulfo Alves)

“Minha vida é essa
Subir Bahia e descer Floresta”
(Rômulo Paes)

“Em Minas Gerais, tem ferro, tem ouro, tutu
Tem gado Zebu,
Tem também, umas toadas,
Alma sonora das quebradas
Encantos das noites de luar”
(Ary Barroso)

“Na Avenida da Paixão
Meu peito não desfila mais,
Tu serás porta-bandeira
Que eu vou pra Minas Gerais”
(Wander Lee)

“Diz um diz que viu e no balaio viu também
Um pega lá no toma-lá-dá-cá do samba”
(João Bosco)

“A multidão me revela, assim, que há coisas extraordinárias, vibrações estranhas, há um mundo diverso do meu e com o qual tentarei, em vão, comunicar-me.”
(Ciro dos Anjos)

“Quem foi que fez brasileiro bater
Tambor de jongo?
De onde é que sai quem batuca com o pé
Terno-de-Congo?
Quem é, me ensina quem foi
Que fez o povo dançar
Tambor-de-Mina, Bumba-meu-boi,
Boi-bumbá,
O bambaquerê,
O samba, o ijexá,
Quando o Brasil resolveu cantar?”
(Sérgio Santos e Paulo Sérgio Pinheiro)

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