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Cineastas mineiros (1968-1970): trajetórias políticas, geográficas e culturais

Daniela Giovana Siqueira

Cineastas mineiros (1968-1970): trajetórias políticas, geográficas e culturais

A virada 1968/1970 marca a produção de uma safra de filmes realizados por jovens diretores nascidos em Minas Gerais, que, longe de defenderem uma mineiridade mítica, realizam obras que fixam a paisagem mineira como lugar essencial para se pensar o Brasil daquele período. Essa escolha geográfica se faz em contraponto a um gesto migratório, que afetou boa parte de uma geração que, possuindo uma mesma base de formação (cineclubismo e crítica cinematográfica conformada em Belo Horizonte), foi morar no Rio de Janeiro no início da década de 1960. Lá escrevem seus roteiros e, cada qual a sua maneira, retornam ao solo natal. Esta proposta tem por interesse investigar dois desses realizadores, Maurício Gomes Leite com o filme A vida provisória (1968) e Carlos Alberto Prates Correia, com Crioulo doido (1970), sendo ambas as primeiras experiências dos diretores à frente do longa-metragem. Tal fato potencializa a discussão sobre o fazer e o pensar cinema, a partir de uma cena de origem, o Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais (CEC), que notabilizou a sociabilidade cineclubista enquanto sociedade intelectual, sobretudo nas décadas de 1950 e 1960. Ele constitui exemplo que, sob uma perspectiva historiográfica, amplia possibilidades que tensionam o jogo provincianismo/cosmopolitismo.

O perfil dos diretores escolhidos desdobra outras camadas sobre o fenômeno de produção. Trata-se de jovens realizadores de cinema, inseridos, portanto, em uma vanguarda central no mundo na década de 1960, vivendo, porém, em um país periférico, realidade que por si só aponta para o polo dicotômico local/universal. Sobre essa base de pensamento, a sobrevivência no tempo dos dois filmes aqui destacados, reverbera ainda outra questão sobre a relação província/centro, desta vez em âmbito nacional: o corpus é constituído por títulos não canônicos, praticamente ignorados pelos estudos de cinema feitos em seu próprio país de realização.

Centradas em Minas Gerais, as obras trazem uma pauta nacional, permeando questões que definiam discussões de relevância para o período. O diálogo é cosmopolita, mas feito a partir de uma matriz local, de experiências próprias que não afirmam o típico; e, nesse sentido, os filmes configuram um conjunto de imaginários sobre Minas, paisagens, ambiências, tratamentos familiares e sociais que enunciam uma forte vontade cosmopolita. Sabemos que em uma vasta produção literária e também na música popular, com o Clube da Esquina, realizou-se com destaque a premissa: a partir de Minas, o mundo! E no cinema? O que fica do cinema produzido a partir de Minas em uma discussão sobre o modernismo?

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