Mário Augusto Medeiros da Silva
Circulação de ideias e alianças transnacionais no mundo negro insurgente (1960-1986)
Intento, principalmente por meio da trajetória de Américo Orlando da Costa (1932-1997) e Terezinha Maria Orlando da Costa (1926-2009), casal de ativistas negros ligados à Associação Cultural do Negro de um lado; e também por meio de Osvaldo Orlando da Costa (1938-1974), guerrilheiro que ficou conhecido como Osvaldão, comandante assassinado da Guerrilha do Araguaia, apresentar e discutir um circuito de circulação de ideias e projetos políticos, coletivos e individuais, presentes no ativismo político e cultural negro, permeado pelas questões anticoloniais, antirracistas, comunistas e pelo terceiro mundismo.
Américo e Osvaldo eram irmãos, oriundos de uma extensa família negra, ambos nascidos na cidade de Passa Quatro (MG), tendo iniciado suas vidas de militantes ligados à esquerda e ao Partido Comunista naquela cidade. Os caminhos trilhados levaram Américo para São Paulo e Osvaldo para o Rio de Janeiro, ambos estudantes e militantes, ainda no final dos anos 1950 (circa 1957 e 1958, respectivamente). E por meio de conexões internacionais do PC, os dois foram direcionados para países da União Soviética ainda na década de 1960. Américo foi para a Rússia, estudar na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba (Moscou) e Osvaldo para Universidade Praga, na Tchecoslováquia. Os irmãos se formariam em Engenharia de Minas. O irmão mais velho permaneceu em Moscou de 1960 até 1970. O mais novo retornou ao Brasil em 1966 e tornou-se militante do PcdoB, posteriormente rumando para o Araguaia, onde seria morto. Terezinha Orlando da Costa era paulistana, com grau de instrução de nível secundário, e sua história é mais difusa, mormente atrelada ao marido. Seguiu com ele para Moscou e de lá ambos, depois de um breve período no Brasil (1970-1974), foram para Lisboa, Luanda e finalmente Maputo, permanecendo em Moçambique entre 1975 e 1986, trabalhando na reconstrução do país pós Guerra Colonial.