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Contagem de mundos: o singular cosmopolita cinema mineiro – Filmes de Plástico + Affonso Uchôa

Marco Antonio Gonçalves

Contagem de mundos: o singular cosmopolita cinema mineiro – Filmes de Plástico + Affonso Uchôa

Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais é de onde partem as narrativas dos 18 filmes da produtora Filmes de Plástico (André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurílio Martins, Thiago Correia) e dos 3 filmes do diretor Affonso Uchoa – A vizinhança do tigreArábia Sete anos em maio. Filmes que se estruturam a partir da vontade de conhecer mais seu próprio bairro, sua cidade, seus personagens, fazer novos amigos e, ao mesmo tempo, descobrir seus sonhos, suas frustrações, suas perspectivas que têm como pano de fundo o trânsito entre narrativas existenciais e construções reflexivas sobre a exclusão social, o mundo do trabalho e suas agruras. Filmes que partem de Contagem para o mundo: Cannes, Roterdã, Nova Iorque, Lisboa.

Filmes em que ecoam problemas e questões capazes de redesenhar uma imagem do Brasil em que se inserem, agora, temas incontornáveis, como raça, classe, gênero, produzindo novas conexões, apontando para outras configurações socioculturais da sociedade brasileira contemporânea. A força dessa produção cinematográfica é que ao se afastar, definitivamente, de um modo de narrar a história da colonização brasileira, atualiza o presente através de “elementos soltos”, fragmentos, descortinando os conflitos, as batalhas, a guerra do dia a dia. Essa figuração imagética sitia lugares e espaços naturalizados, dessubstancializa conceitos como os de localidade, periferia, identidade, memória, finitude, história, ficção, documentário. Evoca diálogos fecundos através de reconfigurações da alteridade e da distopia. Ao propor temas insurgentes repensa o cinema enquanto lócus de contestação e crítica a projetos, tão redentores quanto autoritários, sobre o Brasil.

Cinema que se realiza, fortemente, como produção colaborativa construída na vizinhança e na partilha. Essa capacidade imaginativa elaborada por processos de intimidade, conflito, contradições é o que nos reenvia à cena etnográfica produzida por esses filmes. Investem numa narrativa sobre e de Contagem, que é aqui, literalmente, contagem de mundos, histórias vividas, intimidades, diários de vidas que, ao confrontarem mundos reais e imaginados, produzem imagens contraditórias que esgarçam as fronteiras entre o periférico, o cosmopolita, o singular e o universal.

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