Rafael Lovisi Prado
Cosmominas: estado(s) em expansão na poética de Drummond
A proposta é investigar na extensa produção poética de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) diálogos, apropriações, construções de imagens e outros procedimentos que sinalizem o trânsito e a contaminação entre elementos (territoriais, simbólicos, linguísticos etc.) próprios ao universo de Minas Gerais e aqueles advindos de países e continentes estrangeiros. Como fio teórico a ser traçado, a noção de estado(s) em expansão perpassará os poemas abordados em sua ambivalência, quer dizer, referindo-se não só ao alargamento das fronteiras da cultura mineira (seu cosmos), como também à dilatação dos estados sensíveis e das subjetividades em jogo nos escritos, ambos os sentidos/efeitos desencadeados pela experiência daquilo que o filósofo grego Kostas Axelos chamou de “poeticidade do mundo”. Sendo assim, buscar-se-á destacar uma dimensão na qual os versos do poeta de muitas faces irmanam poética e vida para além de institucionalizações redutoras, sejam estas promovidas por instâncias externas ou internas à literatura. A ultrapassagem em questão diz de invenções na linguagem que têm como destino um mundo que não se restringe nem a individualidades/idiossincrasias nem a generalidades (sociais, estéticas, culturais). Sem ser um dado prévio e acabado, o mundo conjugado à poeticidade, que no caso da presente pesquisa nomeio de cosmominas, consiste numa abertura que nos lança à errância planetária: rasurados os limites impostos pelo imaginário ou pela geopolítica, teríamos através dos inventos drummondianos a figuração de lugares não topológicos e instantes não cronológicos. Trata-se, em suma, de dar a ler na poesia em foco uma disponibilidade para com o mundo em versões reinventadas, disponibilidade esta que apesar de ter se manifestado de maneiras distintas nos traços de historicidade da obra, não se esgota, permanece intempestiva.