Talles Luiz de Faria e Sales
Imagens de Minas Gerais entre os séculos XVIII e XX
A proposta procura analisar a genealogia e o funcionamento poético de imagens recorrentes na literatura brasileira, com ênfase nas representações de Minas Gerais, tendo em vista que as primeiras imagens do Brasil são apresentadas por viajantes estrangeiros que têm como referente a comparação com os espaços europeus, do que decorre uma clivagem ambígua a ser enfrentada pelos escritores brasileiros que procuram descrever a natureza, os sujeitos e a sociedade brasileira formados a partir da feitura do Brasil como empreendimento colonial, do que deriva uma “discrepância”, em termos hegelianos, modulada reiteradamente ao longo da história cultural e intelectual brasileira, nas perspectivas pelas quais se procura perceber o país e o povo novo que se forma a partir dele. Desse modo, procede-se especialmente a um diálogo com a obra de Sérgio Buarque de Holanda, naquilo que enfatiza acerca das imagens do Brasil e do tema do desterro na própria terra com relação à experiência brasileira, bem como com a obra de Darcy Ribeiro, por sua teoria original sobre o caso brasileiro e pela resposta que oferece a tais impasses através do realce que confere à mestiçagem na formação do brasileiro como um povo novo. De modo a circunscrever o corpus de análise, optou-se pela abordagem da literatura produzida a partir do estado de Minas Gerais entre os séculos XVIII e XX, delineando um arco de longa duração que compreende uma geopoética do território mineiro ao partir dos mitos e lendas configuradores da geografia imaginativa dos “sertões ocidentais”, passando pelas primeiras obras escritas no século XVIII, como as de Antonil e Nuno Marques Pereira, pela poesia de Cláudio Manuel da Costa, pelos relatos dos viajantes científicos europeus que visitaram e pesquisaram o território de Minas Gerais nas primeiras décadas do século XIX, até a independência política brasileira e as produções literárias que se lhe seguem, como as de Bernardo Guimarães, Helena Morley, Cornélio Penna, Carlos Drummond de Andrade, Cyro dos Anjos, João Guimarães Rosa, dentre outros que, e evidentemente não de forma exaustiva, entretêm um diálogo literário acerca da configuração geopoética mineira. Dada a imersão a um só tempo geopoética e imagética da proposta, as formulações de Didi-Huberman acerca da forma do atlas em Aby Warburg possuem também função de destaque, bem como são operatórios conceitos mobilizados das obras de Walter Benjamin, Ernst Bloch, György Lukács, dentre outros, de modo a se observar em que medida as visões do Brasil por seus próprios escritores nacionais são consonantes e/ou dissonantes das visões estrangeiras a respeito deste mesmo país, aproximando-se e/ou desassociando-se de um teor imagológico, ao mesmo tempo em que formulam estratégias e mecanismos linguísticos e literários para tal.