Eduardo Dimitrov
Minas e o mundo de Guignard
Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) é conhecido por suas “paisagens imaginantes”, compostas por igrejas barrocas, balões de São João, montanhas de Minas Gerais. Frequentemente, essas telas geram, nos críticos, associações que vão do patrimônio histórico à atmosfera onírica e surrealista. Intimamente vinculados à construção da paisagem como um componente do patrimônio de Minas Gerais, os quadros de Guignard confundem-se com Minas – não seria exagero pensar que imaginamos as cidades históricas também por meio desse acervo visual.
Debruçar-se sobre a obra e a trajetória do pintor pode iluminar aspectos do cosmopolitismo mineiro. O friburguense Guignard teve uma formação cosmopolita. Formou-se pintor frequentando a Real Academia de Belas Artes de Munique. Passou por Florença e Paris, onde participou do Salão de Outono. Ao retornar ao Brasil em 1929, inseriu-se no cenário artístico carioca recebendo algum reconhecimento ao participar do Salão Revolucionário de 1931. Aproximou-se de Oscar Niemeyer e Aníbal Machado ao integrar a Comissão Organizadora da Divisão de Arte Moderna do Salão Nacional de Belas Artes. Em 1944, a convite do prefeito Juscelino Kubitschek, transferiu-se para Belo Horizonte e passou a lecionar e dirigir o curso livre de desenho e pintura da Escola de Belas Artes, por onde, mais tarde, passaram Amílcar de Castro, Farnese de Andrade e Lygia Clark.
Guignard manteve-se inserido na rede de intelectuais que pensavam e implementavam o projeto modernista no Brasil. Sua produção, ao mesmo tempo que importava e mobilizava formas expressivas apreendidas na Alemanha, França e Itália, também respondia às diretrizes de um projeto elaborado pela elite nacional em diversas frentes – patrimônio histórico, instauração de novos valores estéticos, modernização das instituições de ensino de artes plásticas etc.
No âmbito do projeto Minas mundo: cosmopolitismo na cultura brasileira, cabe investigar a obra e a trajetória de Guignard para compreender a maneira como o artista mobilizou criativamente suas referências europeias nas respostas às diferentes diretrizes modernistas. Interessa investigar a construção de paisagens culturais, associando patrimônio histórico colonial a certa “cultura popular” na elaboração de um imaginário não só de paisagens representativas da nação, mas também de um “povo”, que atendesse ao projeto nacional modernista.