Skip to main content
Pessoas

Minas, imagens do mundo: Joaquim Pedro de Andrade entre duas gerações

Luis Felipe Kojima Hirano

Minas, imagens do mundo: Joaquim Pedro de Andrade entre duas gerações

Filho de dois mineiros, Graciema e Rodrigo Melo Franco de Andrade, Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), cineasta carioca, dedicou grande parte de sua cinematografia à releitura do modernismo paulista – através de filmes como Macunaíma (1969) e O homem do pau brasil (1982) – e à constituição cinematográfica de um certo patrimônio mineiro – o que se torna aparente nas películas O padre e a moça (1965), inspirado no poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, Os inconfidentes (1972), que revê a Inconfidência Mineira, e no curta-metragem O Alejadinho (1978).

O presente projeto visa investigar melhor essas duas vertentes da produção cinematográfica de Joaquim Pedro, duas dimensões, por assim dizer, que podem ser lidas em conjunto, como eixos que giram em torno do pêndulo local/universal. Por um lado, esse conjunto de filmes tece intensos diálogos com os projetos culturais e artísticos da geração de seu pai – fundador do IPHAN e amigo de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Pedro Nava, entre outros. Por outro lado, essa série de filmes se relaciona com os ideais do Cinema Novo, do qual o diretor fez parte, e dialoga especialmente com o legado da cinematografia de Humberto Mauro, que tem as cidades mineiras como locação e, a partir dos fins da década de 1960, com o cinema popular carioca dos decênios de 1940 e 1950.

Seu cinema, ao mesmo tempo que tecia uma relação umbilical com o legado paterno, respondia fortemente ao contexto da ditadura militar e aos impasses do cinema brasileiro daquela época. Assim, é possível dizer, a pesquisa irá se aprofundar nesse ponto, buscando entender em que medida Joaquim Pedro, ao filmar obras e figuras que se tornaram marcantes na produção artística e cultural do Brasil, está sempre a falar de si mesmo e da sua geração. Há, nessa característica, guardadas as devidas proporções entre o cinema e a literatura, uma possível conexão entre o modo com que Joaquim Pedro narra seu tempo e uma característica forte da literatura mineira, qual seja, a de articular o universal ao particular como reminiscência em primeira pessoa. Penso, a partir disso, que esse conjunto de filmes permite aquilatar uma certa leitura que conecta Minas Gerais ao modernismo da Semana de 22, a partir de um ponto de vista de um diretor que não deixa esconder a experiência visceral de viver intensamente a geração de seu pai e a sua própria.

Leave a Reply

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.