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Pessoas

Mobilidade e cosmopolitismo nos livros infantis de Ziraldo

Andréa Borges Leão

Mobilidade e cosmopolitismo nos livros infantis de Ziraldo

Não foi com as aventuras dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo que sonhava o menino Ziraldo Alves Pinto na cidade de Caratinga dos anos de 1930. Filho de um comerciante e de uma costureira que também sabia fazer livros de papel, Ziraldo imaginava aventuras no espaço sideral, personagens astronautas e heróis de histórias em quadrinhos. Desenhando na escola e ilustrando os livros de casa, o menino tomou gosto pela escrita. Em 1969, Bacharel em Direito e morando no Rio de Janeiro, lança seu primeiro livro infantil, Flicts, o mais traduzido entre todos. A partir daí, conquista por meio da editora Melhoramentos um lugar importante no mercado editorial brasileiro. Na década de 1980, a literatura infantil se inscreve no desenvolvimento de uma indústria do livro produtora de padrões universais que justificam a sua exportação mundial − antes mesmo da telenovela. A indústria cultural trouxe com ela um nova geração de escritoras e escritores, José Mauro de Vasconcelos, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Ziraldo. Face à interdição dos espaços de produção intelectual pela censura, esse grupo passa a discutir o país, a política e a cultura no livro infantil. 

Para Ziraldo, os anos 1970 foram passando pelo humor e as charges políticas no jornal O Pasquim. O livro menino maluquinho, de 1980, expressa esse movimento. Não por acaso, o escritor diz ter feito do desenho narrativo arte aplicada, ligando a ponta da feitura à do entendimento. De mãos dadas com as crianças Ziraldo atravessou fronteiras nacionais, temporalidades e, até hoje, aos 90 anos, segue encantando gerações. 

Gostaria de testar a hipótese de que o cosmopolitismo do escritor como disposição íntima e relação social provoca identificações e assegura a mobilidade de seus personagens e livros. Para tanto, proponho o estudo da mobilidade dos livros infantis de Ziraldo, relacionando-a aos processos de sua formação e experiência profissional. As ondas de traduções do Flicts, assim como os destinos internacionais dos títulos das séries “meninos” e “meninos e planetas” são os objetos do estudo. A migração do texto por universos linguísticos implica novas autorias e, por conseguinte, transposições do significado. O desenho narrativo pode mostrar a intenção original sendo refeita em universos estéticos de recepção. Cabe saber de que modo a cultura visual de Ziraldo imaginada em um país de língua portuguesa, periférico e historicamente importador, favorece a ampliação do leitorado, alterando os sentidos dos textos. 

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