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Pessoas

Modernismo, extrativismo e melancolia

Denilson Lopes

Modernismo, extrativismo e melancolia

A partir de uma perspectiva genealógica, nossa hipótese é que é possível ter como chave de leitura não só obras isoladas, mas uma constelação, um “outro Modernismo” marcado pela catástrofe ao invés da utopia; pela melancolia ao invés da alegria; pela sensação de fim do mundo ou de um mundo ao invés da inauguração de uma nova era; pelo fascínio pela lentidão que advém depois do fim e de paisagens devastadas, solitárias em detrimento da velocidade e da hipersensorialidade celebrada em grande parte do modernismo identificado com o ritmo da grande cidade. Essa genealogia foi em grande parte apagada ou tornada secundária na história do modernismo mais estudada em São Paulo, a partir dos desdobramentos da Semana de 1922; da renovação do regionalismo a partir de Pernambuco. Esse outro modernismo, nos termos de Paulo Venancio, será compreendido a partir da obra de Cornélio Penna, em especial, A menina morta (1954), de Lúcio Cardoso, em especial, Crônica da Casa Assassinada (1958) e seus desdobramentos nas artes visuais (Goeldi, Farnese de Andrade), e sobretudo no cinema, com certos filmes de Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Davi Neves, estabelecendo uma relação entre esse modernismo e o Cinema Novo distinta da escolha estratégica de Humberto Mauro por Glauber Rocha.

Trata-se da linhagem de uma sensibilidade social, marcada por um longo tempo de decadência, entre o fim do ciclo do ouro e do diamante em Minas Gerais a partir do século XIX, e a crise da cafeicultura no vale do Paraíba, entre o fim do Segundo Império e a crise de 1929. A partir da experiência de uma modernidade rural, dialogando com expressão de Ericka Beckman, trata-se de repensar as tensões entre provincianismo e cosmopolitismo por meio de uma leitura comparativa entre cinema, literatura e artes visuais. O trânsito em obras de diferentes linguagens se traduz numa leitura intertextual, intersemiótica e intermediática em vez de apenas de trabalhos estritamente monográficos sobre artistas ou inseridos dentro de uma linguagem artística específica e de seu campo artístico. Não se trata aqui de buscar adaptações reificando as relações de fonte, origem e obra adaptada, secundária, mas de produzir fricções entre os trabalhos, para que se possa compreender o modernismo para além dos limites de uma linguagem, embora se reconheça a centralidade da literatura para a formação dos artistas e dos debates intelectuais.

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