Skip to main content
Pessoas

Mundo vasto mundo: migrações mineiras

Rossana Rocha Reis

Mundo vasto mundo: migrações mineiras

Na década de 1990, os cientistas sociais foram surpreendidos pela constatação de que pela primeira vez em sua história o Brasil tinha se tornado um país de emigração. No começo daquela década proliferavam as notícias de jornal especialmente sobre o grande fluxo de valadarenses para os Estados Unidos, em particular para a cidade de Boston. Naquele tempo, a professora Teresa Sales realizou um estudo pioneiro sobre esse fluxo, desvelando razões, processos e efeitos dessa mobilidade nas localidades de origem e destino dos migrantes.

Posteriormente, os fluxos do Brasil para o exterior foram se diversificando. Em alguns momentos, diminuíram, mas nunca mais deixaram de existir. Minas Gerais segue sendo um estado importante na composição do estoque de brasileiros no exterior, o que não chega a ser surpreendente para quem conhece o dito “se todos os mineiros voltassem para Minas, não caberia todo mundo em pé”.

Ganhar o mundo para ganhar a vida sempre foi uma opção para os mineiros alijados de possibilidades nos seus locais de origem. Nas últimas décadas, a falta de perspectivas no estado somada ao “encolhimento do mundo” provocado pelo processo de globalização levou os mineiros ainda mais longe, promovendo aquilo que Silvano Santiago chamou de “cosmopolitismo do pobre”: uma inserção subalterna na “aldeia global”, e que ainda assim, como já mostrava Teresa Sales, lhes dá um sentido de cidadania e pertencimento que a desigualdade social na origem sempre lhes negou.

O objetivo dessa pesquisa é retomar essa ideia desenvolvida por Teresa Sales daquele migrante que se sente mais “gente” como imigrante, muitas vezes clandestino, e investigar se ela continua sendo importante para entender a experiência do migrante hoje. Além disso, considerando que a migração é um processo muitas vezes pendular, que modifica não apenas pessoas, mas deixa suas marcas nos territórios que conecta, gostaríamos de entender se e como esse sentido de “cidadania global” se expressa nos locais de origem dos migrantes.

Leave a Reply

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.