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Pessoas

Paz e Inhotim

Sabrina Parracho Sant’Anna

Paz e Inhotim

Na narrativa oficial, o Instituto Inhotim começou a ser concebido por Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. Construída dentro fazenda do colecionador como Jardim Botânico e instituição sem fins lucrativos, a fundação foi aberta para o grande público em 2006 e apresenta hoje uma das mais importantes coleções privadas de arte contemporânea em âmbito internacional.

Como em outras instituições privadas, a criação do museu constrói para seu mecenas uma imagem pública que confunde patrono e coleção, fazendo aderir projetos museais a narrativas de histórias de vida. Na dialética Minas/mundo, Inhotim parece se constituir como metáfora privilegiada de personalidades autorreflexivas cujo destino é o cosmopolitismo. Construindo fortuna pessoal a partir da mineração, Bernardo Paz narra sua infância em Belo Horizonte e o desejo de acumulação, a partir da memória do menino que ouvia o canto das galinhas e corria para acumular os ovos. Na dura relação com a família, diz saltar da introspecção para o reconhecimento da sociedade. Do prosaísmo de Brumadinho, vislumbra o futuro de Inhotim como “uma Disney World pós-contemporânea cultural”. Se, dentre os espaços que suscitam sonhos, já Benjamin aproximava museus, exposições universais, estâncias hidrominerais e – por que não? – parques temáticos, que metáfora melhor para pensar Minas e o mundo? Museu que se quer o salto da experiência individual e ensimesmada da contemplação estética para a democratização de espaços expositivos que povoam de imagens as redes sociais. Minas. Mundo.

Do ponto de vista do projeto, importa, portanto, entender como é possível constituir uma fina relação entre o projeto de instituição internacional e uma fazenda encravada numa cidade de 38 mil habitantes, espaço simbolicamente marcado pela experiência local. Mais do que isso, no entanto, importa também entender o tensionamento entre experiências locais marcadas pela relação com a mineração, pela produção de commodities para o mercado internacional, pelo passado escravista presente na incorporação de mão de obra quilombola, e pela presença de uma arte internacional que passa a se produzir como economia criativa capaz de mediar relações. Proponho aqui entender tanto a imagem construída pelo museu, como pelos discursos críticos que o informam e que são crescentemente incorporados pela instituição.

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