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Pessoas

Arquivos literários em Minas Gerais

Reinaldo Marques

Arquivos literários em Minas Gerais

Como contribuição ao estudo das articulações entre o cosmopolitismo e a cultura brasileira a partir da diferença local das culturas mineiras, propõe-se aqui o levantamento e a exploração dos fundos documentais de arquivos literários e culturais existentes em Minas Gerais, com ramificações em outros espaços. Trata-se de arquivos constituídos por uma documentação heterogênea: textual, iconográfica, sonora e tridimensional, que fazem deles, em alguns casos, uma mescla de arquivo, biblioteca e museu. Nos rastros documentais contidos nesses arquivos, será possível apreender as relações de forças que se cruzam e se chocam no espaço cultural das Minas Gerais, configurando certa orientação cosmopolita. Inclinação marcada, contudo, pelo embate entre forças territorializantes e arbóreas, alimentadas por uma libido de pertencimento e isolamento, e forças desterritorializantes, nômades, rizomáticas, abertas ao devir outro, ao diverso, ao estrangeiro, de que podem dar testemunhos textos, objetos e símbolos preservados nos arquivos literários.

Cabe ter em conta, em termos de uma Minas colonial, a fornida biblioteca do cônego Luís Vieira da Silva, pavoneando o imaginário dos inconfidentes com tintas iluministas, ou a biblioteca do Colégio do Caraça, que formou gerações de intelectuais mineiros. Considerem-se ainda os museus-casa de Alphonsus de Guimaraens e Guimarães Rosa, o Arquivo da Academia Mineira de Letras, o arquivo de Murilo Mendes na UFJF e o Acervo de Escritores Mineiros na UFMG. E também esse grande arquivo de arte moderna e contemporânea que é Inhotim.

Constituídos tanto de coisas quanto de discursos, há neles estratos sedimentares configurando zonas de visibilidade e campos de legibilidade, compondo camadas diversas, atravessadas por relações de forças, de poder. Tais forças compõem o lado de fora do arquivo literário e se definem pelo poder de afetar e de serem afetadas. Dizem respeito a forças no homem – o imaginar, o inventar, o recordar, o querer – e também às forças da vida, do trabalho, da linguagem. Enquanto tal, pode-se indagar: o que esses arquivos literários nos dão a ver sobre os complexos agenciamentos entre o cosmopolita e o local, sobre certo cosmopolitismo mineiro e suas relações com a cultura brasileira? O que eles nos permitem enunciar a esse respeito, desestabilizando sentidos já oficializados?

Metodologicamente, pretende-se abordar a documentação desses arquivos a partir de uma perspectiva transdisciplinar e comparatista, valendo-se de visitas e entrevistas com seus responsáveis e pesquisadores desses acervos. Trata-se de abordagem a ser feita segundo um olhar anarquivista, desconfiado das solenidades das origens e capaz de desconstruir a montagem e ordem arquivísticas instituídas nesses arquivos. De modo a ler seus documentos segundo outras (des)ordens possíveis, a fim de produzir narrativas múltiplas e alternativas que nos permitam contar outras histórias sobre Minas, modernismo e cosmopolitismo no Brasil.

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