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Imaginários sociotécnicos, vocação mineral e desastre em Minas Gerais

Lorena Cândido Fleury

Imaginários sociotécnicos, vocação mineral e desastre em Minas Gerais

O extrativismo para exportação, em especial a mineração, possui em Minas Gerais estatuto ontológico: do seu nome às relações ecológicas, políticas, econômicas e institucionais, o estado é definido por uma “vocação mineral” que ao mesmo tempo o inscreve no multiescalar mundo das corporações transnacionais e determina os mundos possíveis de serem vividos por seus habitantes locais. Contudo, esse aparente determinismo vocacional encobre disputas e conflitos socioambientais que, se sempre estiveram presentes, apresentam uma nova magnitude em decorrência dos desastres-crimes envolvendo barragens de mineração em Mariana e Brumadinho.

É nesse contexto que o presente projeto de pesquisa se propõe a investigar os imaginários sociotécnicos presentes no cotidiano de reparação ambiental nos municípios atingidos pelo rompimento de barragens de rejeitos de mineração em 2015 e em 2019 em Minas Gerais. Para além das dimensões trágicas dos eventos, que juntos somam cerca de 300 mortes e um dano ambiental que se estende por toda a bacia hidrográfica do Rio Doce, a experiência de rompimento das barragens impõe a rearticulação de setores e grupos sociais heterogêneos. Empresários, técnicos, cientistas, atingidos, militantes de movimentos sociais e ambientalistas, diante do imperativo de recuperação ambiental, disputam narrativas e materialidades a respeito do passado, bem como a produção de possíveis futuros.

Os imaginários sociotécnicos presentes nos projetos de recuperação e reparação ambiental, entendidos não somente como a forma pela qual os sujeitos imaginam o ordenamento da vida social, mas também como articulam dentro desse ordenamento a ciência e tecnologia em projetos e práticas no mundo, nos permitem acessar os mundos desejáveis disputados pelos diferentes grupos sociais. Rastrear tais imaginários nos processos de reparação presentes permitirá, propõe-se, analisar a coprodução de sociedade (arranjos institucionais, conhecimentos, valores) e natureza (paisagens, ambientes, recursos) em curso, e, a partir dela, as inscrições e traduções de mundos passíveis de existir e de coexistir nas Minas Gerais.

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