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Mário de Andrade e narrativas sobre Reis e Rainhas de uma África mineira

Joana Ramalho Ortigão Corrêa

Mário de Andrade e narrativas sobre Reis e Rainhas de uma África mineira

A paixão de Mário de Andrade pela cultura popular e pelo folclore, e também seu ímpeto em viajar ao encontro de suas fontes primárias, constituíram traços marcantes dos desdobramentos do modernismo brasileiro. A mata-virgem, onde nasceu seu herói Macunaíma em 1928, tornou-se, nos anos seguintes, protagonista de um cuidadoso labor de decifração, estimulado pela certeza do vigor original que confrontava a desbotada condição colonial. Neste estudo, proponho elucidar as perspectivas de Mário de Andrade na busca de traços da presença africana no Brasil, diluídos e ressignificados no bojo da nacionalidade tupiniquim, a partir de suas pesquisas sobre os Congos e as narrativas míticas e históricas dramatizadas pelas cortes festivas de reis e rainhas negras, especialmente em Minas Gerais, onde descendentes de um grande contingente de povos centro-africanos escravizados perpetuaram uma extensa tradição de Festas de Reinado.

Proponho percorrer os caminhos investigativos de Mário de Andrade sobre os Reinados negros e a presença de sua obra nos estudos que o seguiram para compreender o cosmopolitismo mineiro a partir das narrativas literárias e orais sobre a africanidade e os heróis negros que desafiam a temporalidade histórica. O estudo inaugural de Mário de Andrade sobre os Congos – uma série de cinco artigos em sua coluna de música no Diário de S. Paulo publicados em 1934 posteriormente integrados em texto único e incluídos postumamente por Oneyda Alvarenga na edição de Danças dramáticas do Brasil – é uma chave fundamental para compreendermos na tradição narrativa literária, nos estudos de folclore e na oralidade popular afro-mineira o papel simbólico de heróis míticos como a Rainha Ginga de Angola e o africano Rei Galanga, consagrado como Chico Rei de Ouro Preto. Se a moderna tradição mineira é constituída por relações indissolúveis entre presente e passado, à afro-mineiridade acrescenta-se a continuidade espacial entre terras guardadas por montanhas e uma África atemporal, magicamente conectadas por travessias calungas. Reis Congos e Rainhas Gingas das embaixadas e danças populares são elos de continuidade que borram o tempo, criando um nebuloso conjunto dramático de personagens míticas, literárias e históricas.

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