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Pessoas

Três missivistas mineiros: modernismo, sociabilidades e arquivos da formação

Rodrigo Jorge Ribeiro Neves

Três missivistas mineiros: modernismo, sociabilidades e arquivos da formação

Em 15 de janeiro de 1926, Pedro Nava escreve carta a Mário de Andrade, em que lhe agradece o recebimento de fotografias dos quadros de Tarsila do Amaral que faziam parte do acervo do escritor paulista. Como parte de seu empenho pedagógico, voltado em especial aos moços, Mário remete ao então jovem poeta e desenhista mineiro alguns dos exemplares das tendências da arte moderna naquele tempo, discutindo outros procedimentos e referências estéticas ao longo da correspondência. Outro integrante dos “Intelectuais da Rua da Bahia”, ou “Grupo do Estrela”, Carlos Drummond de Andrade, pouco depois da passagem da Caravana Paulista por Minas Gerais, em 1924, resgata o contato com Mário, por meio de carta em outubro desse ano, a fim de “prolongar aquela furtiva hora de convívio com seu claro espírito”. Além da profunda e mútua relação intelectual e afetiva, o diálogo também ensejou a constituição do papel de Drummond como elemento difusor e aglutinador entre os outros jovens intelectuais mineiros. Por fim, destaco a figura de Rosário Fusco, em especial quando se muda de Cataguases, Minas Gerais, para o Rio de Janeiro e se torna membro da Casa do Estudante do Brasil (CEB), onde se aproxima do então esquerdista Carlos Lacerda. Fusco contribui decisivamente para a aproximação de Lacerda com Mário de Andrade e na organização de uma das primeiras conferências do escritor paulista na então capital federal.

A presença de Mário de Andrade como fator entre os três escritores se deve tanto pela sua representatividade no modernismo quanto na configuração das sociabilidades por meio dos missivistas mineiros. Entretanto, os diálogos epistolares expõem também a importância da mobilização dos mineiros em seus respectivos espaços de atuação intelectual e política, não apenas como agenciadores programáticos, mas também como proponentes de ideias e referências. Além de espaço de construção e encenação das personæ do sujeito, a carta se mostra, assim, como um “arquivo da formação”. Portanto, com este projeto pretendo discutir os modos como se articulam os papéis desses correspondentes no modernismo, considerando também, ao longo da pesquisa, outros missivistas, haja vista o caráter remissivo do gênero epistolar, de modo a contribuir para o debate sobre as relações entre o localismo e o cosmopolitismo na cultura brasileira.

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