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Um mineiro d’além mar: D. Antônio Ferreira Viçoso

Helga Gahyva

Um mineiro d’além mar: D. Antônio Ferreira Viçoso

Os estudos sobre o processo de reforma da Igreja Católica durante o Segundo Império concedem lugar de destaque a D. Viçoso. Afinal, ordenado bispo de Mariana, transformou o Colégio do Caraça em novo modelo de seminário episcopal. Sob orientação dos moldes tridentinos, tanto funcionou como inspiração para a fundação de outras instituições religiosas, quanto formou importantes nomes do clero ultramontano brasileiro.

Nascido na península portuguesa de Peniche, em 1787, o vicentino Antônio Ferreira Viçoso chegou ao país em 1819, junto com o padre Leandro Rebelo e Castro, atendendo a convite de D. João VI para missionar entre indígenas do Mato Grosso. Essa tarefa, contudo, acabou a cargo dos capuchinhos, e novos planos o levaram, inicialmente, à breve período no Caraça, de onde foi deslocado para o Seminário do Jacuecanga, no Rio de Janeiro. Na aurora dos anos 1840, estava já o futuro conde da Conceição de volta ao seminário mineiro. Alçado ao bispado de Mariana em 1844, ele permaneceu no cargo até sua morte, em 1875.

Durante esse período, empenhou-se ativamente em conferir feições ultramontanas a um clero outrora majoritariamente regalista. Mas, se não é contestada sua relevância para o movimento reformador, pode-se discernir pelo menos três conjuntos de interpretações sobre a sua obra.

Em primeiro lugar, aquela produzida por membros da Igreja, caracterizada por teor marcadamente apologético. Destaca-se, dentre tais obras, a primeira biografia de D. Viçoso, escrita por D. Silvério Pimenta, seu sucessor, em 1876.

A partir dos anos 1970, solidificou-se visão, elaborada por autores vinculados à Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina (CEHILA), segundo a qual teria sido o bispo agente local do processo de “romanização” conduzido pelo Vaticano. Nessa chave, D. Viçoso surge como fiel seguidor das orientações do papa Pio IX. Tal abordagem encontra-se tanto em várias das publicações editadas pelo órgão, quanto nas páginas da Revista Eclesiástica Brasileira (REB).

Nas primeiras décadas do século XXI, por sua vez, despontaram perspectivas alternativas, gestadas no meio acadêmico, preocupadas em perceber menos a cega obediência dos padres reformadores brasileiros à Cúria Romana do que os tensos e pouco lineares processos por meio dos quais a agenda ultramontana foi apropriada pelo clero nacional. Por esse prisma, revelam-se motivações múltiplas sob as ações de D. Viçoso.

Nosso objetivo consistirá em mapear e discutir esses diversos pontos de vista aos quais deu ensejo a atuação do bispo de Mariana. Cremos que a tarefa será capaz de oferecer pistas para pensar as relações entre cosmopolitismo e localismo na cultura brasileira, questão geral subjacente ao projeto Minas Mundo.

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