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Vozes e tambores de Minas: figurações da cultura popular e do barroco em Drummond, Rosa e Milton

Roniere Menezes

Vozes e tambores de Minas: figurações da cultura popular e do barroco em Drummond, Rosa e Milton

O presente trabalho visa a investigar a presença de elementos da cultura popular, principalmente musical e negra, da arte barroca e da contemporaneidade, na obra de três importantes nomes da poesia, prosa e música mineira: Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Milton Nascimento. Buscaremos encontrar nas imagens de Minas Gerais presentes em suas produções elementos ao mesmo tempo locais e cosmopolitas. A criação dos autores apresenta características que revelam sobrevivências da cultura colonial afro-brasileira na Minas Gerais moderna e contemporânea. Muitos desses elementos remetem-nos a um aspecto mais popular e periférico do período barroco. Na poesia drummondiana e na prosa rosiana aparecem manifestações ligadas a cantos religiosos, profanos, a cantos de trabalho, dados que se evidenciam nas composições (muitas em parceria) e interpretações de Milton Nascimento. Reflexos do barroco mineiro surgem nas criações por meio dos jogos de contrários, da conjugação entre o excesso e a síntese, do trabalho de montagem. A pesquisa relaciona-se à perspectiva pós-colonial. Investigações de Aires da Mata Machado Filho sobre o negro em Minas, de José Miguel Wisnik sobre música, de Affonso Ávila sobre o barroco mineiro e de Didi-Huberman sobre os conceitos – desenvolvidos por Aby Warburg – de sobrevivência e montagem contribuirão com o estudo. A noção de estética do inacabado, pensada por Mário de Andrade, pode ser notada principalmente em Milton, a partir da reelaboração da produção popular tradicional visando a uma linguagem inovadora que se firmasse diferencialmente no “Concerto das Nações”. A ideia de arte de exportação, presente no Manifesto Pau Brasil, de Oswald de Andrade, aparece em algumas produções. Nos textos, a imagem de Minas Gerais constrói-se por meio de um pensamento que coloca o “interior” em diálogo com diversas referências “exteriores”, visando a um contato com o “fora”. Esse “fora” relaciona-se tanto a outros países, culturas, linguagens e à modernidade tecnológica, quanto à desconstrução dos lugares engessados do patriarcalismo, do regionalismo, do racismo, da religiosidade canônica. Drummond escreveu, sob o olhar do presente, a respeito do “espírito de Minas” popular, negro, barroco, conservador, festivo. Nas narrativas rosianas, há a presença de quilombos, de imaginários e figuras vindas do mundo da escravidão, de elementos populares, barrocos associados a uma escritura diferencial. Milton Nascimento mescla, em suas composições, o Barroco, o Arcadismo, a música latina, norte-americana, europeia, africana, indígena. Nos textos, percebemos, relacionados ao sentido de Minas Gerais, traços arcaicos, ancestrais, amalgamados por uma linguagem e uma perspectiva inovadora, em sintonia com importantes criações artístico-literárias mundiais, com arrojados projetos político-culturais da modernidade e da contemporaneidade.

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